Os únicos populares que estarão presentes no casamento do ex-presidente Lula serão os garçons, os ajudantes de cozinha e os manobristas.
(J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 16 de maio de 2022)
Por que alguém que se considera a pessoa mais popular do Brasil e do mundo, amado por todos e apresentado por sua própria propaganda como uma combinação de Jesus Cristo e Nelson Mandela, precisa fazer uma festa de casamento secreta? É o que Lula, candidato à Presidência da República como marechal de campo da esquerda nacional, tentou. Não deu certo, é claro, porque esse tipo de coisa vaza mesmo, e vaza rápido. Mas tentaram esconder, e é aí que está o problema: esconder por quê? A explicação oficial é a necessidade de segurança, como na festa de qualquer burguesão desses que andam por aí. Tudo bem: rico é assim mesmo, faz suas comemorações atrás de uma muralha de homens de terno preto e fones de ouvido, em fortalezas defendidas por equipamento eletrônico, armamento último tipo e tudo mais que pode isolar quem está dentro de quem precisa estar fora. Vale tudo, desde que a pobrada fique longe. Some daqui, pobre — é esse o mandamento número 1 de qualquer festa de magnata. Mas Lula não poderia ser assim. Ele não é o pai universal dos pobres e dos coitados? Nessas horas deveria ter o povo em volta de si, em vez de fazer tudo para ficar isolado como um paxá.
A explicação para isso é a mais simples de todas: é mentira que Lula seja um “homem do povo”, que tenha mesmo essa “popularidade” que encanta os institutos de pesquisa e que viva cercado pelo amor da população brasileira. Lula foi homem do povo, quarenta anos atrás — hoje é apenas um milionário a mais deste Brasilzão de sempre, igualzinho a todos os que fazem festas como a sua, circulam em carro blindado com motorista e levam uma vida sem nenhum ponto de contato com o dia a dia de pelo menos 95% da população deste país. Sua popularidade, ao mesmo tempo, sofre há anos de uma deficiência terminal: ele não pode sair na rua, pelo medo invencível que tem de levar vaia, ouvir xingação de mãe e ser chamado de ladrão. A prova disso é que não sai nunca. Só vai a eventos fechados da CUT, do MST, da militância petista, de empresários em busca de oportunidades, de artistas e mais do mesmo — sempre em ambiente fechado, com entrada controlada e garantia de que o povo não chega perto. Lula, em plena campanha eleitoral, não pode nem dar uma volta no quarteirão. Passa ao longe, de cara fechada, inatingível, escondido por vidros escuros e defendido por um batalhão de seguranças armados com submetralhadoras.
É natural, assim, que a sua festa de casamento seja idêntica às festas dessa “elite” que ele denunciou como a praga fatal do Brasil durante toda a sua vida política. É uma prova a mais, depois de tantas, de que na vida real ninguém é mais da elite do que ele próprio. Na discurseira que a mídia publica, Lula continua fazendo de conta que é o grande combatente mundial contra o capitalismo, o homem do povo inconformado com o excesso de gastos da classe média e o santo protetor dos pobres brasileiros. Na hora da sua festa de casamento, os únicos pobres presentes são os garçons, os ajudantes de cozinha e os manobristas — todos eles, por sinal, proibidos de comparecer ao trabalho com os seus celulares, para que não possam dizer nem mostrar para ninguém o que acontece dentro. Lula, o PT e os seus devotos são isso.