Davi Maia (DEM) acusa secretário de Renan Filho de pagar supersalários a apadrinhados.
O deputado estadual Davi Maia (DEM-AL) apresentou uma série denúncias contra a gestão da Saúde do governo de Renan Filho (MDB), citando plantões simultâneos que teriam sido falsificados e pagamentos de supersalários a profissionais da saúde. Na sessão plenária desta terça-feira (31), na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE), Maia denunciou que há quatro “folhas fantasmas”; entre elas uma que sangra R$ 1 milhão, e abasteceria cabides de emprego, segundo ele, em benefício de apadrinhados políticos do titular da Secretaria de Saúde de Alagoas (Sesau), Alexandre Ayres.
O secretário abriu investigação sobre as denúncias do parlamentar e determinou a implantação de ponto eletrônico facial nas unidades de saúde estaduais. E, ao tratar as denúncias como ilações políticas que ofendem profissionais da saúde de Alagoas, a Sesau afirma que a “folha fantasma”, a que Davi Maia se refere, seria na verdade a folha de gratificação por produtividade, paga aos servidores da saúde há mais de 20 anos. Mas o deputado discorda.
“[A folha fantasma] serve para agraciar os amigos do Ayres. Só em uma delas, descobrimos que o secretário distribui um orçamento de R$ 1.045.000,00 mensais, remunerando duplamente alguns servidores. Tudo isso está documentado no Portal da Transparência. Aqueles que fazem parte da ‘patota do Ayres’ recebem dois salários da Sesau, ganhando ao final do mês o salário regular de servidor e mais outros salários que são espalhados em folhas paralelas, o que é um escárnio com o dinheiro público”, denunciou Davi Maia.
O parlamentar afirma que, em análise prévia, descobriu que a maioria dos servidores dos plantões simultâneos também consta nestas eventuais folhas paralelas, que contemplariam quem não é concursado nem comissionado.
“Uma coisa é certa: temos uma quadrilha instalada no gabinete do senhor Ayres e isso vai acabar, pois não podemos aceitar esse escárnio com o dinheiro público. Mais uma vez, eu repito: Alexandre Ayres, entregue o cargo! Entregue o cargo! Existem muitas outras denúncias que a minha equipe está terminando de apurar, que virão à tona e que não são de irregularidades somente de pessoas físicas”, ameaçou Davi Maia.
Já a Sesau rebate, em nota publicada na íntegra, ao final desta matéria: “Sem ter como criticar a construção de hospitais, o combate correto e duro à pandemia, que salvou milhares de vidas, e nem a implantação de uma gestão moderna e transparente que tem melhorado significativamente os serviços de saúde em Alagoas, infelizmente o deputado faz uso de informações incorretas e ofende os profissionais engajados nesse trabalho”.
Supersalários para apadrinhados
Davi Maia citou exemplos de ocupantes de cargos públicos no interior do estado que também receberiam irregularmente da Sesau. Mas destacou que há uma secretaria que abriga profissionais que são verdadeiros heróis na guerra contra a covid-19, enquanto outra versão da pasta teria virado “o quintal da casa do Ayres”.
“É a Sesau [de Ayres] que falsifica plantões, paga supersalários, usa hospitais como cabides de emprego. É a Sesau das compras suspeitas, das folhas de pagamento fantasmas, dos apadrinhados que recebem dois salários por mês e, geralmente, não trabalham”, acusa Maia, citando o secretário cotado como pré-candidato a cargo eletivo em Alagoas.
Davi Maia denunciou a existência de servidores lotados no gabinete do secretário recebendo dois a três salários para a mesma função, nomeação de políticos lotados em hospitais em situação de ilegalidade e acumulação vedada. “Estamos falando de improbidades administrativas e crimes contra a Administração Pública”, denuncia Maia.
Entre os nomes citados pelo deputado está o do fisioterapeuta Gustavo Soares Vieira, que seria um “superservidor”. O profissional, conforme a acusação, lidera o ranking de plantões simultâneos: consta em 87 escalas, ao mesmo tempo, no Hospital Metropolitano de Maceió e no Hospital Regional do Norte.
“Este servidor sempre constava como gerente clínico do Hospital do Norte e como coordenador de Reabilitação do Metropolitano. Estamos diante do selo de qualidade da gestão Ayres, que é a falsificação de plantões simultâneos”, acusa o deputado.
O parlamentar acrescentou que Gustavo ainda seria o responsável técnico da Santa Casa de Misericórdia de Maceió e possui uma clínica de fisioterapia no Eustáquio Gomes, que recebeu mais de R$ 300 mil da Prefeitura de Maceió, fato este que já teria sido informado por Maia à Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Davi Maia revelou, da mesma forma, o nome do fisioterapeuta Rômulo de Luna Lessa como sendo mais um apadrinhado do secretário Alexandre Ayres que está sendo beneficiado com plantões simultâneos. O servidor foi citado por constar em 22 escalas, ao mesmo tempo, no Metropolitano e no Hospital Regional do Norte. “O senhor Rômulo está, neste momento [enquanto ele fazia a denúncia na ALE], nas escalas destes dois hospitais no turno da manhã e da tarde. Lanço uma pergunta: onde estará este superservidor agora?”, questionou.
Secretária e vereador
Davi Maia citou que a secretária municipal de Saúde de Pariconha, psicóloga Gizely Tayllen Alves Sá, consta na folha de pagamento do Hospital Regional do Sertão, em Delmiro Gouveia, sem cumprir escalas de plantão na unidade.
“Neste caso, ou temos uma superservidora ou temos uma servidora fantasma. Em qualquer uma destas hipóteses, temos ilegalidades. Esta secretária se encontra proibida de exercer qualquer outro cargo em comissão, contudo as proibições não servem na gestão Ayres”, criticou o deputado.
Ainda mencionou o vereador Jamil Cordeiro (PSC), de Delmiro Gouveia, como beneficiário de salários da Sesau, por estar lotado no Hospital do Sertão. Nestes dois casos, Davi Maia apresentou em plenário cópias do que seriam as folhas de ponto da unidade hospitalar sem o nome destes servidores citados.
‘Ilações políticas ofendem profissionais’
Através de nota destinada a esclarecer a população, a Sesau afirmou hoje que supostas denúncias proferidas pelo deputado de oposição Davi Maia não correspondem a verdade e seriam “ilações políticas efetuadas com o interesse de criar narrativas perturbadoras ao pleno e eficiente trabalho que realizam todos os profissionais da saúde pública de Alagoas”.