‘Quanto maior a miséria indígena, melhor para as ONGs’

Há décadas, um mistério resiste no Brasil: quantas são e o que fazem as ONGs da Amazônia? O tema já foi analisado numa capa de Oeste, em dezembro de 2021. “Já passou da hora de o Congresso descobrir o que as ONGs da Floresta Amazônica fazem com o dinheiro público e a que interesses elas atendem”, dizia a reportagem. Nas últimas semanas, recursos públicos destinados à causa indígena ganharam os holofotes da mídia, especialmente depois da exposição do estado de penúria dos ianomâmis. Só quem trabalhou ou conviveu nas aldeias da tribo sabe exatamente o que acontece na terra indígena.

Oeste conversou nas últimas semanas com personagens que a velha mídia esconde. A reportagem O outro lado do drama ianomâmi, no dia 3, tratou desse tema. Os fatos continuam sendo descortinados. Quem conta sua história desta vez é o cacique Lupedro Moraes, de 44 anos, da etnia macuxi. Ele se formou professor de Matemática e virou líder da comunidade de Volta do Teso, no município de Normandia, a 180 quilômetros de Boa Vista. Lupedro jogou luz em vários pontos sobre a atuação das ONGs, o avanço na exploração do solo, além de aspectos culturais que passam à margem dos brasileiros.

indígena ongs
O cacique afirma que as imagens chocantes de indígenas desnutridos exibidas pela imprensa tradicional não retratam a realidade do povo ianomâmi. “Aquele índio desnutrido, em estado de alta vulnerabilidade, é apenas uma parte, como em qualquer sociedade. A imprensa é que faz todo um jogo sujo para dizer que os ianomâmis estão numa situação precária.”
“Fecha-se os olhos e atrela-se tudo isso ao garimpo. Só que os próprios ianomâmis fazem garimpo, mas ninguém fala isso. Colocam os ianomâmis como se todos fossem coitadinhos, vítimas. Isso não é verdade. É preciso conhecer a realidade”.

Ele diz que não se pode atribuir toda a responsabilidade ao garimpo ilegal, uma vez que os próprios ianomâmis atuam nele — e mesmo assim recebem auxílio governamental e cobram comissão para liberar o acesso de garimpeiros à área. Trocando em miúdos: alguns indígenas se tornaram sócios de garimpeiros. 

“Muita gente sabe que aqui, em Roraima, é público e notório que grupos indígenas que admitem a entrada dos garimpeiros cobram porcentagem do ouro extraído.”

Cacique Lupedro Moraes é professor de Matemática em aldeia Macuxi | Foto: Divulgação
Informações Revista Oeste