Em um discurso realizado em fórum conservador o ex-chanceler expressou sua visão sobre o que ocorre atualmente no país
Alguns trechos de seu discurso no CEPAC
“A China é a superpotência do globalismo, mas não aplica o globalismo.”
“Vivemos um momento de enorme mobilização popular pela liberdade. Creio ser necessário que essa mobilização se dê em favor do estabelecimento de regras de jogo verdadeiramente democráticas, que aumentem o poder do povo e desarticulem o sistema anti-popular que nos rege. A convocação de um plebiscito permitiria colocar o povo não simplesmente na rua, mas no manejo efetivo das alavancas do poder.”
A Politização completa da vida. Para o ex-chanceler em nosso país não se discute mais nada, a não ser política
E no Brasil? No Brasil estamos muito avançados, talvez sejamos o país mais avançado do mundo no calendário de erradicação do vírus do espírito, muito avançados no programa de extermínio da liberdade, nas taxas de eliminação da verdade.
No Brasil estamos avançados na politização completa da vida, em todo os sentidos. No fechamento do caminho, na anulação da verdade e na escravização da vida pelo poder.
No Brasil hoje não existe mais direito, apenas política.
Não existe mais economia, apenas política.
Não existe mais ciência, apenas política.
Não existe mais saúde, apenas política.
Não existe mais educação, apenas política.
Não existe mais família, amizade, afeto, não existe mais filosofia nem cultura nem arte. Apenas política.
(…)
No Brasil nenhuma área da vida está preservada da infiltração da política, do jogo da política partidária exercida pelos donos do poder. “Vigiar e punir” é o lema. O título de um livro de Foucault, que Zizek celebra como o lema da nova sociedade de controle que ele, com grande alegria, vê surgir a pretexto da pandemia.
Tudo o que não atenda aos donos do poder é punido, o que atende é premiado.
No Brasil hoje não existe democracia. “Democracia” virou o nome do aparato de proteção e preservação do poder do complexo político, o aparato de repressão dos dissidentes, aqueles que ousam opor-se ao primado absoluto desse complexo.
Não, no Brasil hoje não existe propriamente política, a política entendida como a discussão dos destinos maiores da comunidade. No Brasil hoje não existe política, mas apenas aquilo que chamarei aqui o complexo político.
Que é o complexo político? No sentido que uso aqui, não se trata necessariamente das pessoas que têm mandato eletivo. Muitas pessoas com mandato eletivo não pertencem ao complexo político, e muitas sem mandato eletivo pertencem. O complexo político é o sistema. Os donos do poder.
Quem compõe esse complexo? Grande parte dos parlamentares e os seus aparatos, obviamente (não todos os parlamentares, claro; muitos parlamentares, como vários aqui no CPAC, trabalham contra o sistema, porém estes são ostracizados, são vigiados e punidos). Também faz parte do complexo político a cúpula do Judiciário. Fazem parte do complexo político também a mídia, o alto empresariado, a academia, os artistas e influenciadores famosos, parte do alto empresariado, ONGs e academia. E não podemos deixar de nos perguntar se esse complexo político, o sistema dos donos do poder, não pretende engolobar também boa parte do Executivo. Justamente o Executivo, o único poder com o qual o povo se identifica e no qual em 2018 depositou toda a sua esperança.
(…)
Para Araújo uma das características do globalismo não é a apologia a um mundo livre ou democrático, mas o que interessa é um mundo livre do carbono.
O sistema favorece a elite contra o povo ignorando o tema da liberdade e da democracia nos foros e debates internacionais. Os “problemas globais” que são usados para justificar o globalismo nunca são temas da liberdade. São sempre temas que não incomodam os totalitarismos. O globalismo coloca como objetivo supremo não um “free world”, um mundo livre, mas um “carbon free world”, um mundo livre de carbono. Sob a desculpa de uma catástrofe climática iminente, como a catástrofe nuclear em outros tempos, o que querem é apenas entregar de graça a liberdade. E o que acontece quando os Estados Unidos – a superpotência da liberdade, a grande potência do mundo livre – não pensa mais em liberdade? Afeganistão. Esse mundo onde o carbono vem antes da liberdade será um mundo de Afeganistões.
Fala-se muito que do outro lado, em oposição ao conservadorismo, está a esquerda, mas isso é uma realidade muito parcial. Na verdade está o globalismo. Assim como, no mundo, o campo globalista não inclui apenas a esquerda, assim também, no Brasil, no complexo político dominante não está apenas a esquerda, mas também o centro, a centro-esquerda, a terceira via, aquilo que chamei a isentolândia, e tudo isso. Combater a esquerda não adianta se o resto do sistema permanece. Vivi isso na minha experiência: quem mais se opôs à política externa de soberania e liberdade que procurei implementar não foi o PT, não foi a esquerda, mas sim o centro.
E. Araújo discorreu sobre o globalismo e a inversão dialética feita pela China, que incentiva o globalismo mas não o aplica na sua própria casa
O globalismo é o grande amálgama entre marxismo e capitalismo, entre esquerda e centro, assim como no Brasil o complexo político é o grande amálgama entre esquerda e centro, configurado para a eternização dos donos do poder.
E a China? A China é globalista?
A China é a superpotência do globalismo, mas não aplica o globalismo. Trata-se de uma inversão dialética tipicamente maoísta. A China é o único país hoje ao qual é permitido seguir uma lógica nacional, enquanto os demais são forçados a seguir uma lógica global. Com isso a China aumenta o seu poder nacional ao mesmo tempo em que aumenta o poder das elites globalistas dos países ocidentais sobre os seus próprios povos. Há uma simbiose entre a China e o globalismo. Tudo o que reforça as elites globalistas no Ocidente reforça o poder do Partido Comunista Chinês, e vice-versa.
Qual o problema da nossa elite globalista no Brasil, o complexo político? O grande problema é que o complexo político não manda apenas na arena política em sentido estrito. Nenhuma área da vida – nem da vida-bíos nem da vida-zoé – está hoje preservada da infiltração da política.
E isso é o oposto da concepção conservadora da vida e da sociedade.
Creio que o que define a concepção conservadora é isto: a preservação da autonomia entre todas as esferas da vida, pois somente isso permite a preservação da autonomia, da liberdade, da dignidade da pessoa humana. A liberdade e autonomia de cada indivíduo, de cada comunidade, de cada nação, e da humanidade como um todo. Para que a humanidade seja livre é preciso que haja indivíduos livres e nações livres. É preciso que haja uma economia livre, uma cultura livre, uma linguagem livre, uma educação livre, uma saúde livre. E não uma economia, uma cultura, uma linguagem, uma educação e uma saúde todas elas sujeitas às injunções políticas, subsumidas na implementação do poder de uma classe. Mesmo que seja uma classe iluminada, e mais ainda em se tratando de uma classe obscura, tenebrosa.
Nenhum totalitarismo chega dizendo: “eu vou te prender, vou te escravizar, vou mandar em tudo porque eu quero”. O totalitarismo chega dizendo: “deixe tudo comigo, eu sei o que é melhor para você… vamos vencer o vírus, vamos construir uma sociedade democrática… eu definirei o que é verdade e ciência, você não tem condições de chegar à verdade por si mesmo”.
O grande pensador russo Vladimir Soloviov escreveu no ano de 1900 um “Breve conto sobre o Anticristo”, no qual imaginava que o Anticristo tomaria o poder mundial a partir do ano 2000. E, segundo o conto, esse Anticristo não chegaria na forma de um monstro com chifres, mas na forma de um grande filantropo, um reformador dedicado à construção da justiça social e do bem comum, à integração de todos os povos em uma grande comunidade global.
O mal triunfa não quando esmaga o bem, mas quando se faz passar pelo bem.
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Revista Sociedade Militar / Texto completo pode ser encontrado em https://www.metapoliticabrasil.com/post/um-plebiscito-reconstituinte-transferindo-o-poder-da-elite-globalista-de-volta-ao-povo